Esta é uma questão que vejo com frequência respondida da forma - e desculpem-me a arrogância - mais disparatada.
A minha resposta simples à pergunta é: TODAS... e em especial a que temos em casa ! Claro que não é exactamente assim como na minha resposta, mas não anda longe do que considero a melhor resposta. Vamos lá a ver se consigo explicar-me.
Não me preocupa muito ver a tendência natural de cada um de nós para dizer que a melhor moto é a que temos. É humano , e não importa muito se está correcta ou não, porque com grande probabilidade cada um de nós pode de certeza fazer a viagem dos sonhos com a que tem/escolheu. Normalmente a razão para não viajarmos (mais) prende-se com o facto de não podermos ou não querermos *de facto* viajar e não com o facto de não termos moto para isso.
Uma questão mais séria é sermos influenciados, "tomados" mesmo, por campanhas de marketing muito bem feitas, reconheça-se, que nos dizem qual é a "ultimate world traveling machine", o símbolo de masculinidade e da virilidade suprema (digo isto porque as mulheres estão infelizmente em grande minoria neste mundo e quando estão parecem-me menos "apanháveis" por estas armadilhas).
Como é óbvio, não há uma resposta única para a "melhor máquina". Depende da viagem que queremos fazer, do estilo de vida que pretendemos ter, dos nossos requisitos de conforto, do tipo de terreno que queremos percorrer.
Para mim e neste momento da minha vida, a melhor moto é uma trail, por abrir todas as possibilidades em termos de tipo de terreno, mas já foram as turísticas durante muitos anos, que nunca hesitei em meter em terra batida sempre que necessário, e até numa scooter de 4 cavalos fiz por duas vezes passeios mais longos recentemente (1400 e 3250 kms respectivamente).
As qualidades óbvias que uma moto "de viagem" deve ter, especialmente se esta for de longa duração, são a fiabilidade, simplicidade, polivalência e, muito importante, aquela em que nos sentimos à vontade para fazer o máximo número de intervenções mecânicas possível. Se é "muita gira" e se com ela engatamos muitas miúdas no café, porreiro, mas de nada vai servir numa grande viagem para destinos usualmente chamados de aventura e às vezes até se pode tornar um problema. Algumas das melhores motos de viagens de aventura são muitas vezes máquinas a que ninguém presta atenção ou que achamos "feias".
Em todos os tempos houve gente que fez viagens mundiais em TODOS os tipos de motos, mesmos as mais improváveis e objectivamente desaconselhadas usando critérios de sensatez e bom senso, desde scooters a Goldwings, motos desportivas, etc.
Já fiz viagens pequenas (15 dias) de alguns milhares de quilómetros em motos desde 50 cc e 3,8 cavalos até 1300 cc e 145 cavalos e juro-vos a pés juntos que o retorno que a viagem me trouxe (essencialmente "coisas" para a alma, uma espécie de retorno espiritual) NADA teve a ver com a máquina escolhida. A maior parte das "razões" que muitas vezes nos impomos para escolher uma máquina "de viagem" são puros preconceitos acerca do que é confortável, apropriado, "estiloso" e chega-nos de fora, através de ideias feitas.
Falando de experiências recentes minhas, passeios feitos num "secador" de 4 cavalos que toda a gente vos dirá ser totalmente desaconselhado para longas distâncias, que faz velocidade de cruzeiro de 30-40 km/h e 10/20 km/h a subir), posso dizer-vos que acabei com quase todos os mitos acerca do que é bom para viajar. O "secador" tem o mesmo conforto da Transalp e mais do que a DR 350 (consigo andar o mesmo número de horas, com a diferença apenas de percorrer menos quilómetros - o meu record foi de 450 km num dia na mini-scooter), boa capacidade de carga e suficiente para um tripulante, a suficiente capacidade para fazer devagarinho os mesmos trilhos que uma trail em Marrocos, e um sem número de vantagens que passam pelo consumo até ao incentivo à proximidade em relação aos locais quando se viaja para países pobres. Se pensam que isto é estranho e está apenas ao alcance de pessoas "especiais", digo-vos na primeira pessoa que se faz "na boa", sendo-se um tipo completamente normal, não em forma, que já não tem vinte anos, com careca e barriga, que passa o dia à secretária, sem aptidões quaisquer mais sofisticadas do que ser capaz de levar a família num passeio domingueiro. Não é preciso ter mais tempo nem ter mais paciência - embora admita ser preciso ter uma visão "muito própria" do que é "ser viajante" para não sentir a baixa velocidade como um handicap.
Se nos libertarmos destes preconceitos bacocos do que é uma moto másculo-viajante , da pressão do marketing irresistível e de outras coisas menores, podemos ter belíssimas viagens com pouquíssimo dinheiro com motos fiáveis, robustas, simples, bem mantidas, que "ninguém quer" e ao preço da uva mijona. Podia mencionar aqui uma lista de 10 ou mais motos que dariam excelentes máquinas de viagem e que ninguém ousaria levar para o café ao sábado à noite...
Tenho dito! Agora podem bater-me, dizer todos em coro que a Transalp é a melhor - sim, Artur, a Varadero também é a melhor - (by the way, a Transalp cumpre de facto todos os critérios de uma boa viajante - é comprovadamente muito confortável, robusta, fiável, simples, versátil), mas podem crer que a moto que está na vossa garagem é quase de certeza uma boa aproximação da melhor moto para fazer a viagem dos vossos sonhos. E o que vos digo não é nada de inédito: é exactamente o que alguém bem viajado vos dirá (se querem um exemplo, comecem pelos "patrões" do 'site' do Horizons Unlimited: http://www.horizonsunlimited.com/ ).
Zé Paulo.
A minha resposta simples à pergunta é: TODAS... e em especial a que temos em casa ! Claro que não é exactamente assim como na minha resposta, mas não anda longe do que considero a melhor resposta. Vamos lá a ver se consigo explicar-me.
Não me preocupa muito ver a tendência natural de cada um de nós para dizer que a melhor moto é a que temos. É humano , e não importa muito se está correcta ou não, porque com grande probabilidade cada um de nós pode de certeza fazer a viagem dos sonhos com a que tem/escolheu. Normalmente a razão para não viajarmos (mais) prende-se com o facto de não podermos ou não querermos *de facto* viajar e não com o facto de não termos moto para isso.
Uma questão mais séria é sermos influenciados, "tomados" mesmo, por campanhas de marketing muito bem feitas, reconheça-se, que nos dizem qual é a "ultimate world traveling machine", o símbolo de masculinidade e da virilidade suprema (digo isto porque as mulheres estão infelizmente em grande minoria neste mundo e quando estão parecem-me menos "apanháveis" por estas armadilhas).
Como é óbvio, não há uma resposta única para a "melhor máquina". Depende da viagem que queremos fazer, do estilo de vida que pretendemos ter, dos nossos requisitos de conforto, do tipo de terreno que queremos percorrer.
Para mim e neste momento da minha vida, a melhor moto é uma trail, por abrir todas as possibilidades em termos de tipo de terreno, mas já foram as turísticas durante muitos anos, que nunca hesitei em meter em terra batida sempre que necessário, e até numa scooter de 4 cavalos fiz por duas vezes passeios mais longos recentemente (1400 e 3250 kms respectivamente).
As qualidades óbvias que uma moto "de viagem" deve ter, especialmente se esta for de longa duração, são a fiabilidade, simplicidade, polivalência e, muito importante, aquela em que nos sentimos à vontade para fazer o máximo número de intervenções mecânicas possível. Se é "muita gira" e se com ela engatamos muitas miúdas no café, porreiro, mas de nada vai servir numa grande viagem para destinos usualmente chamados de aventura e às vezes até se pode tornar um problema. Algumas das melhores motos de viagens de aventura são muitas vezes máquinas a que ninguém presta atenção ou que achamos "feias".
Em todos os tempos houve gente que fez viagens mundiais em TODOS os tipos de motos, mesmos as mais improváveis e objectivamente desaconselhadas usando critérios de sensatez e bom senso, desde scooters a Goldwings, motos desportivas, etc.
Já fiz viagens pequenas (15 dias) de alguns milhares de quilómetros em motos desde 50 cc e 3,8 cavalos até 1300 cc e 145 cavalos e juro-vos a pés juntos que o retorno que a viagem me trouxe (essencialmente "coisas" para a alma, uma espécie de retorno espiritual) NADA teve a ver com a máquina escolhida. A maior parte das "razões" que muitas vezes nos impomos para escolher uma máquina "de viagem" são puros preconceitos acerca do que é confortável, apropriado, "estiloso" e chega-nos de fora, através de ideias feitas.
Falando de experiências recentes minhas, passeios feitos num "secador" de 4 cavalos que toda a gente vos dirá ser totalmente desaconselhado para longas distâncias, que faz velocidade de cruzeiro de 30-40 km/h e 10/20 km/h a subir), posso dizer-vos que acabei com quase todos os mitos acerca do que é bom para viajar. O "secador" tem o mesmo conforto da Transalp e mais do que a DR 350 (consigo andar o mesmo número de horas, com a diferença apenas de percorrer menos quilómetros - o meu record foi de 450 km num dia na mini-scooter), boa capacidade de carga e suficiente para um tripulante, a suficiente capacidade para fazer devagarinho os mesmos trilhos que uma trail em Marrocos, e um sem número de vantagens que passam pelo consumo até ao incentivo à proximidade em relação aos locais quando se viaja para países pobres. Se pensam que isto é estranho e está apenas ao alcance de pessoas "especiais", digo-vos na primeira pessoa que se faz "na boa", sendo-se um tipo completamente normal, não em forma, que já não tem vinte anos, com careca e barriga, que passa o dia à secretária, sem aptidões quaisquer mais sofisticadas do que ser capaz de levar a família num passeio domingueiro. Não é preciso ter mais tempo nem ter mais paciência - embora admita ser preciso ter uma visão "muito própria" do que é "ser viajante" para não sentir a baixa velocidade como um handicap.
Se nos libertarmos destes preconceitos bacocos do que é uma moto másculo-viajante , da pressão do marketing irresistível e de outras coisas menores, podemos ter belíssimas viagens com pouquíssimo dinheiro com motos fiáveis, robustas, simples, bem mantidas, que "ninguém quer" e ao preço da uva mijona. Podia mencionar aqui uma lista de 10 ou mais motos que dariam excelentes máquinas de viagem e que ninguém ousaria levar para o café ao sábado à noite...
Tenho dito! Agora podem bater-me, dizer todos em coro que a Transalp é a melhor - sim, Artur, a Varadero também é a melhor - (by the way, a Transalp cumpre de facto todos os critérios de uma boa viajante - é comprovadamente muito confortável, robusta, fiável, simples, versátil), mas podem crer que a moto que está na vossa garagem é quase de certeza uma boa aproximação da melhor moto para fazer a viagem dos vossos sonhos. E o que vos digo não é nada de inédito: é exactamente o que alguém bem viajado vos dirá (se querem um exemplo, comecem pelos "patrões" do 'site' do Horizons Unlimited: http://www.horizonsunlimited.com/ ).
Zé Paulo.