Descobri uma coisa terrível: que não sou capaz de levantar sozinho o dromedario... (tenho que ir fazer o curso dos Xplorers). Vou ter que evitar grandes avarias...
Estou a fazer um percurso em torno do Grande Erg Ocidental, parando em alguns Oásis no deserto. Actualmente no Oásis de Taghit, onde termina o Hamada (deserto rochoso) e o mar de centenas de quilómetros de areias do Grande Erg Ocidental, onde não vive ninguém. A temperatura às 4 da tarde era de 52º C ao sol e 45º C à sombra. As ruas deste oásis estão desertas e a vida só volta lentamente, agora ao fim da tarde. Irei tão a sul quanto me deixarem, sem necessidade de guia, o que até agora tem sido possível, embora com alguma escolta policial...
Há muitos locais com vestígios do passado verdejante do Sahara: gravuras e fósseis de bicharada, incluindo dinossauros, que aqui viveram quando estes locais tinham um clima bem diferente. Os locais com gravuras são impressionantes e muito diferentes dos sítios turísticos a que estamos habituados na Europa: tudo exposto a céu aberto, gratuito, solitário. Só nós e o deserto. Estas gravuras estão facilmente acessíveis em Tiout, perto de Ain Sefra, uma porta de entrada do Sahara...
Toca a identificar a bicharada!
Visitei este local durante o período de oração na sexta passada. Para quem não saiba, a sexta-feira tem para os árabes o significado do "nosso" Domingo, embora em termos de trabalho, pelo menos nestas zonas mais rurais, os árabes tenham um muito maior pragmatismo. Terminada oração, é um dia de trabalho como qualquer outro e pequenos comércios abertos até às 22 horas...
Na Argélia, adoptou-se até muito recentemente o período de fim-de-semana à quinta e sexta (equivalentes ao nosso Sábado e Domingo), mas como isso reduzia a muito poucos dias, a parte da semana utilizável para transacções comerciais com outros países parceiros, mudou-se para sexta e sábado.
É muito estranho à noite não ver uma única mulher na rua, nestes meios rurais (acredito que nas grandes cidades do litoral seja muito diferente). A única que vi em Ain Sefra ia em passo apressado e seguida por um homem com ar apressado (se é que me faço entender com o cenário...)... A julgar por algumas amostras que depois descreverei em detalhe, as mulheres por aqui não são muito bem tratadas (tal como em outros países árabes, imagino) - segundo os padrões a que estamos habituados - e têm uma vida que não deve ser fácil...
Virando a página, há também vários vestígios da presença de algumas espécies de dinossauros no (agora) deserto do Sahara. Um dos sítios que visitei, isoladíssimo, a uns 60 kms de Ain Sefra, na direcção da fronteira de Marrocos, fica na aldeia de Oulakak. Há um "museu", com um aspecto bem diferente dos museus a que estamos habituados. O Ada é o guarda do museu, vive sozinho no isolamento do local, não aceitou alguns dinares que lhe quis dar, como recompensa da visita que me guiou e ainda me ofereceu um chá que fez no momento!
Quem quiser saber mais sobre a presença dos dinossauros nesta região, aponte para aqui (cuidado, leitura densa!
) : http://dinonews.net/rubriq/docs/2005_chebsaurus_mahammed.pdf
As primeiras fotos de Taghit (feitas hoje de manhã) ainda estão na máquina e ficam para mais logo. Agora vou ver a vida nocturna deste belo oásis e tentar conversar com alguns locais. Claro que me tenho divertido a fazer muitas filmagens do dia-a-dia por aqui!
Zé Paulo.