Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.
Uma ida aos Picos no inverno de 92 1286630276 Bem-vindo ao Fórum das grandes máquinas! Uma ida aos Picos no inverno de 92 2438059070

+2
D'Artagnan
antonio.q
6 participantes

    Uma ida aos Picos no inverno de 92

    antonio.q
    antonio.q
    1ª engrenada
    1ª engrenada


    Número de Mensagens : 168
    Masculino
    Idade : 69
    Data de inscrição : 23/02/2008

    A Mota
    Marca Mota: Honda
    Modelo Mota/ano: Transalp
    Kms: ainda muitos para rolar

    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Empty Uma ida aos Picos no inverno de 92

    Mensagem  antonio.q Sáb 15 Mar 2008, 21:04

    Há uns anos fui pela primeira vez aos Picos de Europa, em Espanha, logo no dia um de Janeiro, com os meus amigos Pimenta e Fernandes. Foram cinco dias muito interessantes e frios e o Pimenta escreveu um pequeno relato que enviou para a “motojornal” que o publicou em Abril desse ano, penso eu. Não trouxe fotos comigo pois não as digitalizei, apenas a reportagem.
    Não sei se se conseguirá ler, por isso vou copiar o texto e colocar as páginas para mostrar as fotos publicadas (poucas).

    url=https://servimg.com/view/12059743/6]Uma ida aos Picos no inverno de 92 Picos010[/url]

    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Picos011

    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Picos012

    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Picos013

    “UM PASSEIO, COMO MUITOS OUTROS, NUM DOMINGO DE DEZEMBRO. DURANTE O ALMOÇO SURGE A IDEIA: E SE FÔSSEMOS COMEÇAR O ANO AOS PICOS DA EUROPA?, PROPÔS O TEIXEIRA QUE JÁ TINHA ESTADO LÁ COMIGO EM AGOSTO.
    O DESAFIO ERA INTERESSANTE: COMO SERIA UMA VIAGEM DESTAS EM JANEIRO? AS ESTRADAS TERIAM MUITO GELO? AS TEMPERATURAS SERIAM MUITO BAIXAS?
    BEM, PELO MENOS HAVERIA MUITAS SITUAÇÕES NUNCA VIVIDAS.
    HOTEL OU TENDA? TENDA DE CAMPISMO, CLARO.
    POR HUMBERTO PIMENTA (TEXTOS E FOTOS)

    Às sete e trinta da manhã do primeiro dia de 1992, no local combinado, lá se encontrava o Queiróz, ficando mais uma vez Trofa para trás. A estrada estava deserta com toda a gente na cama depois de uma noite de folia. As poucas pessoas por quem passávamos ainda regressavam do “reveillon”. Em Montalegre, já com 120 quilómetros percorridos, juntámo-nos ao Fernandes, ficando o grupo completo, já que o Teixeira à última da hora não pôde partir por motivos imprevistos.
    Alguns quilómetros adiante, já perto de Chaves, havia um denso nevoeiro e bastante frio, dizendo o Fernandes que é habitual nesta época e nesta zona. Devido à baixa temperatura, o nevoeiro rapidamente se transformava em gelo e os blusões começaram a ficar brancos. As mãos e os pés começaram a doer com o frio. Chegados à fronteira, na paragem, as motos não aguentavam o “ralenti”. O botão do “starter” da moto do Queirós tinha congelado e foi preciso utilizara energia “pernil” para repor o motor a funcionar.
    Aproveitámos para tirar o gelo das viseiras ou dos óculos para quem levava a viseira levantada, já que o gelo provocado pelo nevoeiro não deixava ver nada. Tudo isto se passou debaixo do olhar estupefacto dos guardas fronteiriços. Depois de Verin tudo voltou à normalidade, com o sol a romper o nevoeiro. O andamento começou a ser outro embora com muita cautela porque a estrada tinha grandes espaços com geada.
    Atravessámos Leon cerca das 15 horas com um grau de temperatura. Tínhamos que andar o mais rápido possível para não apanharmos a noite no caminho.

    Gelo na estrada
    Utilizámos a mesma estrada que em Agosto só que desta vez o andamento era mais lento dado que a estrada estava muito húmida e como víamos muita neve nas bermas e campos tínhamos medo que houvesse gelo. Chegámos a Riaño com o sol a começar a esconder-se. Não havia tempo a perder!
    Atestar as motos e arrancar em direcção a Cangas de Onis onde íamos montar a nossa base. A estrada nos primeiros quilómetros era larga e de bom piso mas depressa se tornou estreita com gelo e neve nas bermas. Numa curva cheguei a temer o pior. Quando olho pelo espelho retrovisor vejo a moto do Queirós deslizar mas felizmente não passou do susto. Já a noite tinha caído quando entrámos no desfiladeiro de Los Beyos. Íamos um pouco assustados e muito tensos e foi com muita alegria e um certo alívio que vimos a placa a indicar a entrada em Cangas de Onis. Tínhamos demorado hora e meia a percorrer os 60 quilómetros de Riaño a Cangas de Onis. Estávamos bastante cansados e fomos procurar um hotel para passar a noite, tarefa fácil por ser Inverno.
    De manhã arrancámos para o Parque Nacional de Covadonga com paragem na basílica neo-românica de Covadonga e na Santa Cova da Virgem, uma parede vertical de uma altura impressionante onde se encontra a “santinha” e a Capela Sacrário encaixados numa gruta.
    Andámos mais uns quilómetros e chegámos ao lago Enol (a 1.070 metros) que se encontrava com 70% da superfície gelada. Seguimos para o segundo lago, a 1-108 metros – lago de La Ercina, também com grande parte da sua superfície gelada, havendo mesmo sítios onde o gelo aguentava o nosso peso. Como a estrada acaba no lago, voltámos a descer até Soto de Cangas onde fomos visitar numa pequena aldeia próxima, a “Cueva del Buxo”, umas grutas pré-históricas com pinturas rupestres e gravações de cavalos, havendo ainda desenhos por decifrar e galerias por explorar.
    No dia seguinte decidimos aventurar-nos por alguns caminhos (pistas). Fomos por estrada até Arenas de Cabrales, a partir de onde passámos a encontrar a estrada repleta de gelo, apesar do sal espalhado estrada fora. Quando nos cruzámos com um jipe da polícia, estes avisaram-nos que para a frente estava pior. Um pouco assustados decidimos continuar em frente para Pancebos, onde parámos junto à central eléctrica.

    “Pataturismo”…
    Em frente uma placa indicava um miradouro e um monumento ao pico do Urrielo, ou Naranjo de Bulnes como é mais conhecido, com 2.519 metros de altitude. A única forma de lá chegarmos era a pé. Não pensámos duas vezes e lá fomos. Passados cinco minutos já o Fernandes perguntava se ainda faltava muito.
    Pudera! Aquilo é que era subir! Mas ao fim de meia hora para fazer talvez uns 300 metros, lá conseguimos chegar à aldeia de Camarmeña que por sorte tinha um café. Tivemos que procurar a dona para nos atender porque nesta época do ano clientes é coisa rara. A sede era tanta que não dava para falar enquanto não se acabou de beber. Ao fundo, muito ao longe, via-se o “Naranjo”, mas onde seria o tal monumento?
    Com o Queirós e o Fernandes a resmungar e a dizer que já não seguiam mais, la´fui eu procurar a “razão” da nossa caminhada. Depois de dez minutos a andar bem lá encontrei o monumento (no miradouro) com uma réplica do “Naranjo” e placas de homenagem a várias pessoas, como o primeiro alpinista a conseguir escalar o Pico e a outros que morreram a tentá-lo.
    Em conversa com a dona do café perguntámos se não haveria outro acesso, ao que ela nos respondeu que sim mas que ainda era pior. Como era possível viver ali? Como levavam para lá as bebidas e outras coisas como, por exemplo, uma arca congeladora? Num burro, disse ela!!!
    Viemos depois a saber também que as cinco crianças da aldeia iam à segunda-feira para a escola de Cangas de Onis e voltavam ao sábado.
    A fome apertava e o almoço estava nas mochilas, lá em baixo nas motos. Felizmente agora era a descer. Depois do almoço, seguimos por uma estrada cheia de precipícios até Sotres onde nos metemos numa pista que eu já conhecia até ao Refúgio de Aliva. Andados uns quilómetros tínhamos pela frente um riacho gelado para atravessar. No verão tinha sido fácil pois havia pouca água mas agora achámos que tinha pouca segurança e por isso tivemos que passar por uma pequena ponte mais acima onde mal dava para passar com as motos à mão.
    Apesar da quantidade de neve ir aumentando, fomos avançando até que, ao avistar o refúgio, tivemos que desistir. Era impossível continuar, a neve ultrapassava os 60 centímetros e já não se conseguia distinguir a pista. Que chatice!
    Tínhamos que descer aquilo que tanto nos custou a subir. Voltámos pela mesma pista até Sotres e depois pela mesma estrada até Cangas de Onis. A temperatura era de três graus e chegámos cansados mas satisfeitos e sem novidades.

    Pic-nic na neve
    No último dia de estadia optámos por uma visita ao desfiladeiro de Los Beyos com as suas altas paredes verticais e os túneis rasgados pelo homem para fazer passar a estreita estrada que liga Cangas a Riaño – Nova Riaño, já que a Riaño Antiga está submersa nas águas da albufeira. Alguns quilómetros antes de Riaño (Puerto del Ponton a 1.306 metros) seguimos por uma estrada de montanha para a Posada de Valdeon.
    As paisagens eram deslumbrantes, com mais neve em Puerto de Panderrueda a 1.450 metros e com uma vista magnífica no miradouro de Valdeon. Chegados à pista de Valdeon seguimos para Portilla de La Reina por uma estrada com cerca de dois metros de largura até Puerto de Pandetrave a 1.562 metros, para continuarmos por uma pista até Fuente Dé. Mas tal não foi possível devido à quantidade de neve existente na pista que estava intransitável.
    Comemos ali o farnel com um frio de rachar perante a admiração dos espanhóis que iam passando de automóvel ou jipe e que nos cumprimentavam, se calhar a chamarem-nos malucos.
    Decidimos então ir a Cain para dar uma espreitadela à garganta do rio Cares, com 11 kms de comprimento. Para ver a totalidade da garganta era preciso mais tempo e nós estávamos a mais de 70 kms de Cangas de Onis por estrada de montanha e com a noite quase a chegar. Chegados ao hotel fizemos as “malas” para arranca cedo na manhã do dia seguinte. Antes de jantarmos ainda fomos ver e passar na ponte romana de Cangas, um monumento nacional.
    No dia seguinte ao colocar as tralhas nas motos reparámos que a moto do Queirós tinha um furo na roda dianteira. Bolas! Já era preciso azar, mesmo na hora do regresso! Mas como tínhamos anti-furo foi só aplicar e depois sempre a andar até Oviedo.
    Resolvemos ir por Oviedo para fugir à estrada de montanha que poderia ter muito gelo. Mas mesmo assim apanhámos um susto quando numa curva feita a 90/100 km/h corria um fio de água que estava gelada e que deu para sentir as motos a escorregar. Mas felizmente nada aconteceu.
    De Oviedo ara Leon não fomos pela auto-estrada como normalmente. Mas não sabíamos o que nos esperava e a estrada começou a subir e a surgir as placas com a altitude: 1.000, 1.100, 1.200 metros… Entretanto, com o vento forte que se fazia sentir, a condução tornava-se difícil. Quando chegámos ao cimo, Puerto de Pajares a 1.379 metros, o vento tinha acalmado. A descida foi espectacular com o caminho de ferro a acompanhar a estrada e com os túneis que estavam cheios de estalactites de gelo. Enquanto nos íamos aproximando de Leon o sol ia aquecendo e a estrada tornava-se mais segura.
    Nada mais a assinalar até chegarmos à Trofa tendo deixado a companhia do nosso amigo Fernandes em Montalegre. Em Chaves lá estava o nevoeiro a meio da tarde.
    Foram cinco dias diferentes e inesquecíveis a fazer mototurismo numa zona não muito agradável para andar de moto no Inverno. Mas com um pouco de bia vontade é possível passar momentos agradáveis. Não éramos os únicos portugueses por aquelas paragens pois encontrámos um casal de Lisboa que tinha ido de automóvel, um jipe com matrícula portuguesa e quatro rapazes da Amadora que tinham ido de comboio. Quanto a motos só nos cruzámos com seis durante os cinco dias e os 1.600 km que fizemos.
    Ah, já me ia esquecendo de dizer que afinal não fizemos campismo porque não encontrámos parques abertos e como o hotel onde ficámos não era caro, optámos por ficar ali todas as noites.

    Um abraço para todos e bons passeios
    D'Artagnan
    D'Artagnan
    5ª a Fundo
    5ª a Fundo


    Número de Mensagens : 1689
    Masculino
    Idade : 62
    Data de inscrição : 12/09/2007

    A Mota
    Marca Mota: Honda
    Modelo Mota/ano: XL600V Transalp
    Kms:

    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Empty Re: Uma ida aos Picos no inverno de 92

    Mensagem  D'Artagnan Sáb 15 Mar 2008, 21:26

    Boas, antonio.q

    Bela crónica, uma grande aventura, mas como "quem corre por gosto não cansa", foram uns dias bem passados e com boa companhia como se percebe pela crónica.

    Por cada crónica que leio sobre os Picos de Europa, a vontade de ir lá é cada vez maior, bem em princípio e se nada correr mal faço questão de ir lá este ano, vamos a ver.

    Continua a deliciar-nos com essas tuas belas crónicas que nós gostamos, os meus parabéns e continuação de uma boa viagem.
    antonio.q
    antonio.q
    1ª engrenada
    1ª engrenada


    Número de Mensagens : 168
    Masculino
    Idade : 69
    Data de inscrição : 23/02/2008

    A Mota
    Marca Mota: Honda
    Modelo Mota/ano: Transalp
    Kms: ainda muitos para rolar

    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Empty Re: Uma ida aos Picos no inverno de 92

    Mensagem  antonio.q Dom 16 Mar 2008, 01:10

    Tenho mais umas notas de viagem, umas publicadas outras não, sobre Marrocos, Pireneus, Jugoslávia e Austria e Rep. Checa e Eslováquia.
    Vou tentar compor os textos e enviá-las.
    Também tenho sobre a Irlanda e Escócia, são várias páginas mas penso que resumir muito iria tirar interesse. Estou a acabar e logo que possível vou publicar.

    Espero que estas minhas notas de viagem ajudem a aumentar o desejo de viajar que é uma das boas coisas que podemos fazer nesta vida.

    Obrigado pelas palavras de apoio,
    A.Q.
    antonio.q
    antonio.q
    1ª engrenada
    1ª engrenada


    Número de Mensagens : 168
    Masculino
    Idade : 69
    Data de inscrição : 23/02/2008

    A Mota
    Marca Mota: Honda
    Modelo Mota/ano: Transalp
    Kms: ainda muitos para rolar

    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Empty Re: Uma ida aos Picos no inverno de 92

    Mensagem  antonio.q Dom 16 Mar 2008, 01:11

    As minhas primeiras viagens foram numa Honda Dominator que era uma grande máquina e que com grande pena vendi ao fim de dez anos e com 135 mil quilómetros.
    Agora tenho uma Transalp que já vai nos 108 mil e está quase com nove anos.
    Transouto
    Transouto
    O Pai do Forum
    O Pai do Forum


    Número de Mensagens : 5388
    Masculino
    Idade : 47
    Data de inscrição : 11/09/2007

    A Mota
    Marca Mota: Honda
    Modelo Mota/ano: Transalp XL 650 V/2006 /Africa twin 2016
    Kms: 32 000 km(+ 100 000km) /17 000km

    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Empty Re: Uma ida aos Picos no inverno de 92

    Mensagem  Transouto Dom 16 Mar 2008, 20:40

    Mais uma vez um EXCELENTE contributo da tua parte apar o nosso Forum..Obrigado António e parabéns..

    V
    TrAnsAlper
    TrAnsAlper
    Admin
    Admin


    Número de Mensagens : 8418
    Masculino
    Idade : 51
    Data de inscrição : 11/09/2007

    A Mota
    Marca Mota: Honda
    Modelo Mota/ano: Ex-TrAnsAlp XL 650 V
    Kms: 63.000

    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Empty Re: Uma ida aos Picos no inverno de 92

    Mensagem  TrAnsAlper Seg 17 Mar 2008, 12:08

    António...só uma palavra.Obrigado! Wink
    ARSÉNIO
    ARSÉNIO
    1ª engrenada
    1ª engrenada


    Número de Mensagens : 192
    Masculino
    Idade : 56
    Data de inscrição : 22/02/2008

    A Mota
    Marca Mota: Honda
    Modelo Mota/ano: Transalp
    Kms:

    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Empty Re: Uma ida aos Picos no inverno de 92

    Mensagem  ARSÉNIO Qui 20 Mar 2008, 17:48

    Obrigado António por fazeres parte deste forum e nos deliciares com os relatos das tuas viagens por este mundo fora... votos de continuação de boa viagem aí por terras do SUL Smile pirat

    Arsénio
    avatar
    Riderman
    2º engrenada
    2º engrenada


    Número de Mensagens : 275
    Masculino
    Idade : 56
    Data de inscrição : 18/03/2008

    A Mota
    Marca Mota: BMW
    Modelo Mota/ano:
    Kms:

    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Empty Obrigado

    Mensagem  Riderman Qui 20 Mar 2008, 23:52

    Caro Antonio,

    Após ler atentamente a tua cronica, apenas posso dizer MUITO OBRIGADO por partilhares este estado de espirito e ser, e aguardo viamente as proximas cronicas

    Com um grande abraço

    excelentes curva e retas

    Riderman

    (ilídio Guedes) Very Happy Cool

    Conteúdo patrocinado


    Uma ida aos Picos no inverno de 92 Empty Re: Uma ida aos Picos no inverno de 92

    Mensagem  Conteúdo patrocinado


      Data/hora atual: Dom 19 maio 2024, 09:21